Design de quadros
#1

Boas, resolvi fazer um post técnico, visto que a secção anda fraquinha. Muito deste conteúdo é reaproveitado de outros sites, e isto é mais uma tradução mal feita. Lembrei-me de o fazer por andar em mãos com isto para o meu próximo projeto.

Rake e Trail

Estes dois termos referem-se ao ângulo da coluna de direção e á distância que vai desde o ponto de contacto da roda da frente até ao ponto em que a linha imaginária da coluna de direção toca no chão.
O trail vai variar sempre com o rake e com o offset da mesa de direção. Rodas maiores também aumentam o trail.
Na prática, pensem numa roda livre de um carrinho das compras. Com rake igual a zero a roda volta-se para trás, para compensar o trail negativo (1). Se ela estiver inclinada (rake superior a zero), vai ficar voltada para a frente (2). Se diminuirmos o offset, ela vai ficar mais estável (3).

[Imagem: qhL2vx1.jpg]

Nota: alterações como baixar/levantar a frente ou a traseira mudam estes valores, tal como utilizar mesas de direção com maior ou menor offset – baixar a frente e levantar a traseira reduzem o rake e trail, tornando a moto mais “agressiva” e menos estável. Certas suspensões já têm algum offset, visto terem o eixo da roda á frente das bainhas, são normalmente encontradas em motos de enduro.

Geometria do braço oscilante

Ok, estes ângulos podem ser um pouco mais difíceis de explicar, mas vou fazer o meu melhor. Os conceitos aqui são o Ângulo de Transferência de Massa, Ângulo de Tração da Corrente e Centro de Momentos (Pole of Moments).

Centro de Momentos
O centro de momentos é encontrado traçando uma linha imaginária que vai do eixo traseiro até ao pivot do braço oscilante, traçando uma segunda linha tangente ao pinhão de ataque e cremalheira, e fazendo a intersecção das duas. Esse ponto será o nosso centro de momentos.

Ângulo de Tração da Corrente
O ângulo de tração da corrente é obtido traçando uma linha desde o ponto de contacto da roda traseira até ao centro de momentos.

Ângulo de Transferência de Massa
O ângulo de transferência de massa é obtido traçando uma linha desde o ponto de contacto da roda traseira até ao ponto que intersecta a altura do centro de gravidade com a linha vertical que passa pelo eixo da roda da frente. Neste campo é difícil sermos muito precisos devido à falta de informação detalhada sobre a altura do centro de gravidade (que varia de piloto para piloto).

Resultados
A relação entre estes dois ângulos vai ditar o comportamento da mota sob aceleração. No caso do ângulo de transferência de massa ser superior ao ângulo de tração da corrente vamos ter a mota a agachar a traseira (rear end squat), e retirar carga á frente – que por sua vez vai aumentar o trail e alargar a curva. Isto acontece em motos com o centro de gravidade muito alto.
No caso inverso a moto vai levantar a frente á mesma, mas como a traseira não agacha não existe um alargamento de trajetória tão notório. Este é o setup utilizado na maior parte das motos desportivas.

Deixo aqui alguns exemplos, retirados das várias motas que estou a estudar. Os centros de gravidade foram tirados com base num ficheiro Excel que conta com praticamente todos elementos, se bem que tive de aproximar o peso e localização de alguns elementos. Não é exato, mas para mim serve.

[Imagem: XrF2PlL.jpg]
[Imagem: tSc4tJB.jpg]
[Imagem: VMV336D.jpg]

Peço para atentarem na localização do centro de momentos na Ducati GP13, completamente exagerada em relação á Yamaha M1 e Triumph Daytona 675, e ás localizações elevadas dos motores (visível pelo pinhão de ataque) e do banco. Também se pode ver a preocupação com a estabilidade destes monstros de 260cv, pelo rake e trail. Outro aparte é a muito pouca diferença entre os ângulos previamente discutidos na Ducati GP13, principalmente em relação à “concorrência”.
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#2

Boas;
Discutir concepções de chassis é sempre complicado e nem tudo é assim tão simples quanto o acima exposto. Basta olhar para as últimas 4 décadas, principalmente a partir do momento em que os japoneses apareceram com motores performantes e ciclísticas inspiradas nas estruturas de bambu.
Tomar como exemplo a Ducati de MotoGP também não me parece boa ideia, é (ou tem sido) uma das motos mais peculiares do paddock e a ciclística não é a sua única particularidade, apesar de ser esta a mais contestada.
No extremo oposto, temos as chopper extremas dos anos 60 e 70 ou as suecas, onde estas noções também são vitais para separar uma moto "conduzível" de algo que apenas serve para expor na sala.

Uma sugestão: comecem por "brincar" com a ciclística da moto que têm em casa. blink
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#3

(20-01-2015 às 10:21)Johnny_1056 Escreveu:  Uma sugestão: comecem por "brincar" com a ciclística da moto que têm em casa. blink

E no artigo explico como o podem fazer e o que esperar dependendo das alterações blink

(20-01-2015 às 10:21)Johnny_1056 Escreveu:  Discutir concepções de chassis é sempre complicado e nem tudo é assim tão simples quanto o acima exposto. Basta olhar para as últimas 4 décadas, principalmente a partir do momento em que os japoneses apareceram com motores performantes e ciclísticas inspiradas nas estruturas de bambu.

Este artigo é sobre GEOMETRIA. Ainda não entrei nas análises estruturais, em que vou falar sobre as noções de rigidez e flex. Calma amigos, que chegamos lá thumbsup

(20-01-2015 às 10:21)Johnny_1056 Escreveu:  No extremo oposto, temos as chopper extremas dos anos 60 e 70 ou as suecas, onde estas noções também são vitais para separar uma moto "conduzível" de algo que apenas serve para expor na sala.

Muito curioso que muitas destas choppers "evitam" algumas considerações - nomeadamente tudo o que é referente ao trém traseiro. Por serem hardtails, ou terem o CoG muito baixo, não se corre o risco de a mota aterar a geometria da frente em curva, sendo uma mota mais previsivel a curvar (não estou a dizer que são muito boas a fazer curvas rápidas ou que são ágeis - isso tem a ver com a geometria do trém frontal, que estas motas claramente têm exagerado).

(20-01-2015 às 10:21)Johnny_1056 Escreveu:  Tomar como exemplo a Ducati de MotoGP também não me parece boa ideia, é (ou tem sido) uma das motos mais peculiares do paddock e a ciclística não é a sua única particularidade, apesar de ser esta a mais contestada.

Quanto à Ducati, só pus esse exemplo para poderem ver que parece uma mota desenhada por malucos que não tiveram em consideração alguns pilares básicos de GEOMETRIA e FISICA (Eu antes disse "parece que", atenção), e para podermos discutir as diferenças encontradas.

Por exemplo, a Ducati é a moto com menos Rake do paddock, mas com o maior Trail. É a mota que coloca o piloto mais a frente, mas mais alto. Tem a geometria traseira que menos impede squatting, apesar dos pilotos se queixarem da falta de feeling a frente. As minhas conclusões para a Ducati são que não houve consideração relevante pelo anti-squat (já volto a esta parte), e andam a tentar tapar buracos, pondo tudo o que podem mais a frente para conseguir aquecer o peneu da frente. O Trail é maior que em todas as outras, uma tentativa de compensar o Rake mais apertado (que devem ter recorrido para manter a moto curta mas sem riscos da roda bater no motor quando há compressão a frente).

Estou a fazer o estudo de muitas outras motas para comparar. De momento já fiz as 3 MotoGP de fábrica, MV Agusta F3, Daytona 675 (a dadora para o meu projecto), a R6 e a Britten V1000. Faltam-me as 1000 e algumas motas que não gostei de conduzir - como a Ducati Monster.
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#4

Boas;
Duke, vai com calma. Estás a fazer uma análise demasiado simplista, o que por si só limita a validade dos resultados obtidos.
E sim, estamos apenas a falar de geometria, sem sequer entrar em considerações estruturais.

Por muito que penses que as choppers fogem desses conceitos, principalmente por nem sequer terem suspensão traseira, isso só facilita a sua análise uma vez que não tens qualquer alteração de geometria na parte posterior. Por outro lado, e tudo isto começou de modo profundamente empírico e à base da tentativa e erro, o trem dianteiro tem muito que se lhe diga e todas as noções anteriormente apresentadas por ti são levadas muitíssimo a sério, desde a alteração do ângulo da coluna de direcção à geometria da própria suspensão.

Não estás a ser demasiado pretensioso ao tecer esse tipo de considerações acerca da Ducati de MotoGP?? Já te esqueceste que já foram campeões do mundo e depois tiveram como piloto aquele que é considerado o melhor de todos os tempos juntamente com o seu staff técnico no qual esteve alguém que muitos consideram um fabricante de campeões e nem assim fizeram nada? Durante essas duas épocas miseráveis foram concebidos mais de 10 chassis.

Esquece os estudos sobre as motos de fábrica; não tens dados fidedignos para analisar.
Tal como a Britten que é um caso muito particular a todos os níveis desde a sua suspensão Hossack ao braço oscilante, passando pelo motor. Muita gente já perdeu tempo a analisar essa moto e ainda não conseguiu perceber como funciona tão bem, incluindo fabricantes.

Todas as outras, os elementos são mais ou menos públicos e podes tentar descobrir e associar padrões.
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#5

Olha, cagando no parágrafo que dedicaste ás choppers no post anterior (visto que eu ja tinha referido que a sua geometria não se modifica), e passando a coisas sérias:

Como "ninguém conseguiu perceber como funciona tão bem"? A Britten tinha um bicilindrico 1000cc com 160cv em 1991, a FZR1000 da mesma altura tinha 145cv. Pesava 138kg a seco contra os 200kg da Ducati 851, e tinha a geometria mais aproximada a uma 600 actual que a uma 1000.

Isto é facto, independentemente do que tu consideras fidedigno, os dados foram obtidos por mim, pela minha mão e sei o que estou a fazer lol.
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#6

Boas;
Se dedicasses mais tempo a olhar para o trem dianteiro das choppers, que desprezas ou cagas, eras capaz de descobrir coisas interessantes.

Em que é que te baseias para chegar a essa conclusão sobre a Britten?? Como calculaste o centro de gravidade do conjunto? E a geometria exacta da moto?
Tens alguma, das 10 feitas, em casa?? Por favor...

Sabes o que estás a fazer? Será?
Quantos chassis já construíste?
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#7

Pegar e dissecar na informação que existe na net é um excelente exercício mental para tentar perceber como as coisas funcionam.
E acima de tudo, permite descobrir a variabilidade de soluções aplicadas ( muitas delas pouco lógicas e racionais) que os construtores adoptam para resolver limitações dos seus projectos.

Essa é uma das belezas da engenharia associada a isto.

Porém, tecer conclusões sobre o que está mal ou bem acaba por ser pretensioso!
Muitos destes projectos, sobretudo os aplicados ao motoGP, reúnem equipas constituídas por profissionais bastante experientes e especializados.
Até porque são areas que envolvem muito dinheiro e muito investimento que é suposto dar retorno.

Parece-me pouco humilde querer provar a incompetência de algumas destas opções com base em artigos da net e comparando-os com os conceitos que são considerados como o "standard"...
Também gosto à brava de especular sobre estes temas... Mas, parece-me imperativo manter os pés assentes na terra e recordar que todas as soluções oficiais foram tomadas por quem está efectivamente no terreno e cuja carreira depende desses resultados.

Ainda assim, estou curioso com essas conclusões. smile
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#8

O maior interesse deste artigo era mesmo ver até que ponto alguém deste fórum conseguiria tentar entender os dados que eu proponho e dar a sua própria análise. Foi imbecilidade e ingenuidade minha esquecer-me que o primeiro passo da Internet é desacreditar as informações dadas.

Os dados (geométricos) foram obtidos dissecando várias imagens ortográficas da vista do lado esquerdo da mesma mota, escalando de acordo com componentes conhecidos. Utilizaram-se várias imagens para confirmação de dados, visto que não existem fotos ortográficas puras e existe sempre perspectiva (o pior caso doi da M1). O CoG (centro de massa), foi obtido estimando o peso e localização de vários componentes. Mas garanto-te o erro não passa muito de +/-10mm (afinal a Ducati com o piloto 45mm mais alto, o motor 22mm mais alto e escape debaixo do banco varia apenas 20mm). Adiante... Se vieres a Faro convido-te para uma imperial (pagas tu) e eu mostro-te o mundo de ficheiros e dados que tenho no PC blink

[Imagem: SXv4Jow.jpg]

DFelix, manda lá bitaites a comparar motas que isso é que eu quero  blink  Queres mais motas é? Quanto ás minhas conclusões até agora, fiquei surpreso pela moderação no trém frontal das MotoGP. Estava a espera de geometrias mais radicais e agressivas (motos ageis) e no entanto vejo rakes bem conservadores (estáveis)
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#9

(20-01-2015 às 17:29)Duke Escreveu:  O maior interesse deste artigo era mesmo ver até que ponto alguém deste fórum conseguiria tentar entender os dados que eu proponho e dar a sua própria análise. Foi imbecilidade e ingenuidade minha esquecer-me que o primeiro passo da Internet é desacreditar as informações dadas.

Este fórum tem os utilizadores activos do antigo motonline.
Sendo que o tema que trazes foi já abordado por lá, parece-me lógico que desperte a atenção exactamente das mesmas pessoas.

(20-01-2015 às 17:29)Duke Escreveu:  Os dados (geométricos) foram obtidos dissecando várias imagens ortográficas da vista do lado esquerdo da mesma mota, escalando de acordo com componentes conhecidos. Utilizaram-se várias imagens para confirmação de dados, visto que não existem fotos ortográficas puras e existe sempre perspectiva (o pior caso doi da M1)

Recorrendo ao primeiro passo da internet, que é desacreditar as informações dadas... não estás a ser demasiado optimista nas medições?
Digo isto porque tenho recorrido à mesma técnica para simular resultados de algumas potenciais transformações recorrendo a fibras e acessórios de outros construtores no mercado. E o resultado deixa sempre um bocadinho a desejar...

A minha técnica é um bocado rudimentar... mas também nunca me refiro a ela como rocket science.
Tal como os objectivos são por norma pouco pretensiosos.

(20-01-2015 às 17:29)Duke Escreveu:  Adiante... Se vieres a Faro convido-te para uma imperial (pagas tu) e eu mostro-te o mundo de ficheiros e dados que tenho no PC blink

Tenho todo o gosto em pagar uma ou até mais.
Não vou regularmente a Faro. Mas não fica esquecido.

Aliás, se estiveres interessado em trabalhar em algo real... até teria gosto em aceitar sugestões para o subquadro que pretendo construir, embora ainda esteja numa fase de esboço.

(20-01-2015 às 17:29)Duke Escreveu:  DFelix, manda lá bitaites a comparar motas que isso é que eu quero  blink  Queres mais motas é?

Só referi a Britten como um mau exemplo, porque não é uma moto convencional.
O misticismo passa mais pelas soluções adoptadas e forma como foi concebida o que naturalmente gera alguma fantasia.

Por acaso fico curioso com os dados das motos equipadas com hossack face aos convencionais.

(20-01-2015 às 17:29)Duke Escreveu:  Quanto ás minhas conclusões até agora, fiquei surpreso pela moderação no trém frontal das MotoGP. Estava a espera de geometrias mais radicais e agressivas (motos ageis) e no entanto vejo rakes bem conservadores (estáveis)

Não me espanta por uma razão muito simples: potência.
Há muito mais potência a colocar no chão. Tal como essa potência consegue ser aplicada em ângulos de inclinação estupidamente superiores ao das motos convencionais.
A electrónica e as ordens de explosão que favorecem a tracção também cumprem a sua parte.

Tens dados que torne possível comparar a classe de Moto2 entre si, e claro, com as actuais superdesportivas 600cc do mercado?
Parece-me uma análise interessante.
Afinal, todas as motos utilizam o mesmo motor (baseado no da CBR600RR). A grande diferença é precisamente ao nível da abordagem que os construtores (Kalex, Suter, FTR, ...) utilizam no desenvolvimento dos seus "quadros".
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#10

Bem, comparando os Hossak com as frentes convencionais há diferenças na geometria sim. Têm valores de rake e trail mais pequenos, e a razão prende-se com o facto de que uma frente convencional altera a geometria quando travas ou entras numa curva com a frente muito "carregada" o que vai diminuir muito estes valores e destabilizar a mota - logo o engenheiro tem de precaver isto e dar margem de manobra. A frente Hossak não muda o rake e o trail, mesmo que o não tenha muito anti-dive.

Ainda ando a procura de fotos adequadas das Moto2 dead

Eu sinceramente não estou preocupado com os valores que estou a obter, estou mesmo muito satisfeito. A M1 foi a mais dificil até agora e mesmo assim consegui chegar lá bem. Eu sei o tamanho dos discos, jantes, distância entre eixos, etc e jogando várias imagens da mesma mota, escalo os componentes no CAD e consigo resultados muito bons. proud

O problema é como os tratar e tomar decisões com base nisso. Para já, factorizando o peso e potência consigo achar valores que tenho a certeza que me iam dar uma mota com um excelente compromisso entre estabilidade e agilidade mas... seria melhor do que a base? Os dados dizem-me que devo comprometer a agilidade, o que faz sentido: já li muitos casos/queixas de que motas muito ageis para a rua (Superduke R p.ex) leva a muita queda em pista. E a minha experiência/gosto pessoal também em diz o mesmo: motas que caem demasiado depressa para a curva levam a ter que ajustar a trajectória a meio da curva, e se não tenho muito power já sei que vou perder velocidade/tempo nessa curva.
Responder




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