25-10-2017 às 10:22
Com alguns daqueles motociclistas realmente apaixonados por motos, daqueles que fazem questão de experimentar novos modelos, de se aventurarem em outros estilos de motos e diversos caminhos, que gostam de andar depressa e fazer muitos quilómetros, nem que seja apenas pelo puro prazer de andar de moto, com esses, dizia, costumo conferenciar e trocar impressões sobre algumas motos. E frequentemente chegamos à derradeira e universal conclusão de que, nos dias de hoje, já (quase) não há motos más. O que há é motociclistas mais exigentes!
Com isto quero eventualmente desculpar qualquer desabafo menos simpático que possa nas linhas seguintes vir a ter relativamente a esta Yamaha cujo nome dá a entender, ainda que de forma subliminar, ou pouco óbvia, que se trata de uma Scrambler!
Antes disso, quero salientar que durante quase 10 dias, esta SCR 950 proporcionou-me imensos momentos de prazer. A rolar descontraidamente, a ouvir o compasso do escape de tonalidade grave e a embalar-me em sequências de curvas. Claro que tudo isto foi em asfalto, e do bom.
Como todos sabemos, uma Scrambler é basicamente uma moto para desbundar, para rumar sem destino, provavelmente a solo, a curtir a neura, e ir onde bem nos der na gana, provavelmente por caminhos por onde se não era suposto ir, desafiando as convenções e a sorte, enquanto a força, os euros e a coragem, nos permitam.
Como todos sabemos, uma Scrambler é basicamente uma moto para desbundar, para rumar sem destino, provavelmente a solo, a curtir a neura, e ir onde bem nos der na gana, provavelmente por caminhos por onde se não era suposto ir, desafiando as convenções e a sorte, enquanto a força, os euros e a coragem, nos permitam.
Por isso, uma Scrambler quer-se ágil, leve, estreita, ergonómica, confortável, com uma grande brecagem, uma boa altura ao solo, um motor responsivo e uma boa autonomia.
Ora bem… eu não vou ser muito exigente, mas esta nova Yamaha não corresponde, em praticamente nenhum destes pontos, à especificação da designação.
A SCR 950 é congénere de uma moto que já tive oportunidade de testar nestas páginas, a XV 950 Racer e descende igual e directamente de uma cruiser (a XV 950R que na América é conhecida por BOLT, versão que também já tinha tido oportunidade de testar) e a prová-lo estão os seus 252 kg de peso, a sua altura ao solo de apenas 145mm, e as suspensões, com um curso de apenas 135mm e 110mm respectivamente à frente e atrás, com afinação bastante rija.
Ora bem… eu não vou ser muito exigente, mas esta nova Yamaha não corresponde, em praticamente nenhum destes pontos, à especificação da designação.
A SCR 950 é congénere de uma moto que já tive oportunidade de testar nestas páginas, a XV 950 Racer e descende igual e directamente de uma cruiser (a XV 950R que na América é conhecida por BOLT, versão que também já tinha tido oportunidade de testar) e a prová-lo estão os seus 252 kg de peso, a sua altura ao solo de apenas 145mm, e as suspensões, com um curso de apenas 135mm e 110mm respectivamente à frente e atrás, com afinação bastante rija.
Apesar de ter gostado imenso das duas versões que referi, nesta SCR 950 constatei que a sua posição de condução é fortemente afectada pela enorme caixa de filtro de ar, que massacra o joelho direito, e pela cabeça do cilindro traseiro que nos obriga a manter também afastado o joelho esquerdo.
Os poisa-pés, apesar de proporcionarem um bom apoio, estão precisamente na pior colocação que podiam ter, e além de demasiadamente afastados e baixos, tanto que raspam no piso com enorme facilidade, estão mesmo a jeito de, a manobrar, nos deixarem as canelas num estado lastimoso, a menos que andemos com botas de enduro de cano alto.
Os poisa-pés, apesar de proporcionarem um bom apoio, estão precisamente na pior colocação que podiam ter, e além de demasiadamente afastados e baixos, tanto que raspam no piso com enorme facilidade, estão mesmo a jeito de, a manobrar, nos deixarem as canelas num estado lastimoso, a menos que andemos com botas de enduro de cano alto.
O motor, apesar de debitar a sua potência de forma linear, é relativamente lento na resposta, e em caso de pressa, o seu carácter “cruiser” exige trocas de caixa frequentes, que fazem subir os consumos numa condução mais apurada, o que não é bom para o ambiente, nem para a carteira, e menos ainda para a autonomia, que depende de um depósito de combustível com capacidade para uns escassos 13 litros, e que em andamentos “normais”, dificilmente (ou nunca) chegam para 200km.
Por falar nisso, o tampão do depósito, quando aberto, fica solto, com a chave nele encaixada, o que constitui mais um motivo de preocupação.
Por falar nisso, o tampão do depósito, quando aberto, fica solto, com a chave nele encaixada, o que constitui mais um motivo de preocupação.
Ainda sem querer parecer demasiado exigente, a SCR 950 padece de dois graves equívocos:
O primeiro é a correia da transmissão. Para lidar com pedras, areias, ramos e troncos, a correia dentada não é uma solução eficaz, nem fidedigna, a menos que se ande efectivamente em busca de uma aventura desagradável.
O segundo é o assento. Demasiado estreito, demasiado rijo, e para muitos demasiado alto, cobra dividendos tanto mais cedo quanto pior for a regularidade do piso.
Longe do conceito “no road, no problem”, a Yamaha ressalva acertadamente que esta SCR950 não é uma moto orientada para o fora de estrada.
Caso a ficha técnica me tivesse passado despercebida, e me tivesse deixado enganar pelo guiador largo, pela protecção de cárter, pela jantes raiadas com a dianteira de 19 polegadas, e pelo nome SCR(ambler), essa explicação seria o suficiente para reavaliar todo o conceito. Ora se a SCR 950 não é para andar por maus caminhos, então é boa para andar no asfalto!? Certo? Bem, a verdade é que há alguns pormenores que...
Os travões, por exemplo, que se em pisos pouco consistentes têm na pouca incisão uma grande vantagem, em asfalto, o único disco dianteiro revela-se efectivamente escasso, e manifestamente abaixo do nível das prestações dinâmicas do conjunto.
Do assento também já tinha referido que, de confortável, não tem rigorosamente nada, e a caixa de 5 velocidades tem um accionamento bastante rústico e pouco suave.
O canhão da ignição, colocado bem lá na frente e debaixo do depósito é de difícil acesso, tornando grotesco o acto de dar arranque, e à noite torna-se bastante mais difícil de encontrar, mesmo antes do jantar!
Também o painel de instrumentos, pouco “retro”, revela-se de difícil leitura sob certa iluminação, e praticamente ilegível para quem usar óculos com lentes polarizadas.
Para acabar com a lista de desabafos, fica ainda uma nota para os acabamentos, onde se destaca, por exemplo, a ligação eléctrica do farolim LED e dos piscas traseiros, inexplicavelmente com lâmpadas convencionais, que dá ares de ter sido feita por um “vizinho jeitoso”.
FONTE
O segundo é o assento. Demasiado estreito, demasiado rijo, e para muitos demasiado alto, cobra dividendos tanto mais cedo quanto pior for a regularidade do piso.
Longe do conceito “no road, no problem”, a Yamaha ressalva acertadamente que esta SCR950 não é uma moto orientada para o fora de estrada.
Caso a ficha técnica me tivesse passado despercebida, e me tivesse deixado enganar pelo guiador largo, pela protecção de cárter, pela jantes raiadas com a dianteira de 19 polegadas, e pelo nome SCR(ambler), essa explicação seria o suficiente para reavaliar todo o conceito. Ora se a SCR 950 não é para andar por maus caminhos, então é boa para andar no asfalto!? Certo? Bem, a verdade é que há alguns pormenores que...
Os travões, por exemplo, que se em pisos pouco consistentes têm na pouca incisão uma grande vantagem, em asfalto, o único disco dianteiro revela-se efectivamente escasso, e manifestamente abaixo do nível das prestações dinâmicas do conjunto.
Do assento também já tinha referido que, de confortável, não tem rigorosamente nada, e a caixa de 5 velocidades tem um accionamento bastante rústico e pouco suave.
O canhão da ignição, colocado bem lá na frente e debaixo do depósito é de difícil acesso, tornando grotesco o acto de dar arranque, e à noite torna-se bastante mais difícil de encontrar, mesmo antes do jantar!
Também o painel de instrumentos, pouco “retro”, revela-se de difícil leitura sob certa iluminação, e praticamente ilegível para quem usar óculos com lentes polarizadas.
Para acabar com a lista de desabafos, fica ainda uma nota para os acabamentos, onde se destaca, por exemplo, a ligação eléctrica do farolim LED e dos piscas traseiros, inexplicavelmente com lâmpadas convencionais, que dá ares de ter sido feita por um “vizinho jeitoso”.
FONTE