(18-08-2016 às 17:47)cabs Escreveu: Uma velhota cá da terra viu-me e perguntou se havia algum problema. Eu disse-lhe que era só por causa da chuva, escusava de ir de mota à chuva, tendo um carro que anda tão pouco à disposição.
Ela disse "fazes bem, ires de mota à chuva ainda pensam que és pobre!"![]()
A mota custou-me tanto como o carro, mas achei a ideia engraçada e ainda me ri com isso.
Até contei a um amigo meu quando lá cheguei e a reacção foi a mesma: "tão a tua mota dá-va para comprar 2 corsas como o meu"
Anyway, é possível que em gerações mais velhas até seja uma ideia comum.
O veículo de duas rodas a motor há várias décadas que está "institucionalizado" na sociedade portuguesa.
A chamada motorizada (ou "bicicleta a motor", como muitas das pessoas mais idosas ainda se referem às mesmas), desde os anos 50, que era o veículo de eleição de uma sociedade muito limitada financeira e literariamente. Era impossível à generalidade das famílias portuguesas, em meados do séc. XX, conseguirem tirar uma simples carta de condução (pela iliteracia geral existente), e ainda mais, adquirir um carro. A motorizada, que era barata, e que podia ser conduzida com uma simples licença camarária, muitas vezes obtida por especial favor, era assim a única e exclusiva opção de mobilidade destas famílias.
Todos nós tivemos avós, pais, tios, vizinhos, etc, que possuíam e se deslocavam de motorizada (e muitos ainda hoje o fazem). Este era mesmo o modo de deslocação principal para toda a família, por essas vilas e aldeias fora. O mercado era tão convidativo, que a proliferação de pequenos montadores e fabricantes de motorizadas, em Portugal, foi enorme.
Daí que mesmo as pessoas mais idosas, sempre viram o veículo de duas rodas a motor, como algo destinado aos de menos posses ou mais limitados.
Claro que com o evoluir francamente favorável da situação económica, social e educacional do país, as opções de mobilidade que até então eram proibitivas, tornaram-se naturalmente acessíveis, neste caso, o recurso ao automóvel.
Em relação ás motos propriamente ditas, a única coisa que tem mudado desde esses tempos das "motorizadas", são as respectivas motorizações e a origem desses veículos de duas rodas a motor. Mas a ideia de que é o veículo "dos remediados" permanece nessas pessoas que já carregam o peso da idade.
(18-08-2016 às 17:47)cabs Escreveu: Na minha opinião, mais velhos ou mais novos, de uma ou outra marca, carros ou motas são produtos relativamente banais... e, sem ir a produtos muito específicos, pouco podem dizer sobre a verdadeira situação financeira da pessoa.
Não reflecte isso, é um facto. Até porque o recurso a esquemas de crédito tornam fácil o acesso a algo que de outra forma seria impeditivo.
Mas isso não vai obstar a muitos, o sentimento de ostentação que se falou atrás.... mesmo que para isso, se tenha um "casamento asfixiante" para grande parte da vida, com uma entidade credora.
![[Imagem: QKmafvp.png]](https://i.imgur.com/QKmafvp.png)