(23-01-2020 às 23:56)luiseug Escreveu: Boas noites,
Tenho andado a procura de informação sobre a VFR1200f.
A minha ideia seria adquirir uma mota para dar uns passeios de fim de semana com umas curvas pelo meio e ao mesmo tempo uma mota que me permitisse ter um maior conforto para fazer uma viagem um pouco maior, entre os 2 mil e os 6 mil km.
estou também curioso sobre o sistema DCT, alguém conhece o sistema instalado no modelo de 2010?
Ora bem... eu tenho uma VFR1200F, que veio para as minhas mãos há dois anos e picos (quando a comprei tinha 44 mil, está de momento a completar 61 mil km).
É um modelo pouco conhecido da maioria da comunidade motociclística (e não só), essencialmente por ter sido lançada no mercado algo fora de tempo, ser uma moto de um segmento de nicho de mercado e ter tido vendas residuais. Ainda hoje é-me frequente aproximarem-se da mota, começarem a olhar e questionarem sobre que modelo é?
Pelo contrário, e como deves ter constatado, aqui neste forúm, acaba a ser das motos mais comentadas, e quase sempre de forma algo controversa, produto de outras questões que até nada têm que ver com as especificidades, características e comportamento da moto propriamente dita.
O facto é... na realidade e como com outras motos quaisquer, tem pontos aonde é excelente e outros que de igual forma, são mais negativos. Deverás sobretudo pensar nesta moto, num sentido de utilização específico para determinados tipos de utilização, em detrimento de outros. Ou seja, acaba a não ser uma moto polivalente, ao contrário de outras.
A VFR1200F saiu para o mercado em 2010, num altura em que o segmento das sport-tourers já estava em declínio e esteve "apenas" 7 anos em comercialização, tendo sido "morta" pela entrada da norma Euro4. Este timing errado também pode ter contribuído para o seu modesto sucesso de vendas, a par de não ser uma moto barata (em PT tinha um price tag na casa dos 16.500 euros, com a versão DCT a custar mais sensivelmente 1200 euros). De igual forma, empolado pelos media, esperava-se uma substituta plena de um outro modelo emblemático da marca das asinhas, a XX, descatalogada um trio de anos antes. E quando muitos esperavam uma moto virada para a desportividade que a XX tinha, e com números de realce, a "frangaria" mete cá fora uma moto mais virada para o turismo de altas prestações, um pouco à semelhança daquilo que a BMW já tinha com a K1200S. Aliás, a VFR quando saiu, recordo um slogan que a referia como "a Honda para convencer os proprietários BMW a mudar". O efectivo sucesso disso deve ter sido ínfimo, mas as muitas semelhanças de concepção entre estes dois modelos é evidente (não obstante da arquitectura do motor, chassis ou suspensão dianteira).
De qualquer forma, se prezas viagens em bom ritmo, com conforto, segurança, capacidade de bagagem, e até possibilidade de acolher companhia no assento traseiro, a VFR 1200 (ainda é) uma das melhores opções que tens no mercado.
A mota tem um design "fora da caixa" (ou se adora, ou se odeia), projecto do designer espanhol Teófilo Plaza. Transpira qualidade de construção, dos materiais, componentes e atenção em inúmeros detalhes (tanto é que, para eliminar os inestéticos parafusos, conceberam um intrincado sistema de fixação de painéis e carenagens, que depois com o uso e desgaste, acaba a trazer outros problemas de fixação).
Até o pormenor de ter sido pensada para montar malas (OEM), aumentando o potencial turístico, sem ter de se socorrer de quaisquer tipos de suporte adicionais mostra esse cuidado de evitar beliscar o design da mesma.
O motor é um possante V4 de 16 válvulas com distribuição "unicam", com um trabalhar bem característico e que lhe dá duas facetas. Quando se arranca, prima pela suavidade, acelerando com progressividade e sem grandes brusquidões (o acelerador é ride-by-wire). E se rolarmos ali até às 4.5k rpm, é bastante doseável. Depois desse regime, o "monstro" que habita no V4, acorda... e com o seu silvo característico, empurra com uma força descomunal para números bem obscenos. Se se souber trabalhar com esta dualidade de comportamento, consegue-se uma maior e melhor polivalência de uso.
A caixa de velocidades (tendo em conta o modelo de caixa manual), apesar de ruidosa e dura, é extremamente precisa e eficiente, sem falsos neutros ou espaçamentos.
Mesmo a velocidades bem proibitivas, a mota revela uma consistência e estabilidade irrepreensíveis. As suspensões showa, são todas elas totalmente reguláveis (mecanicamente) à frente e atrás. E a par disto, com uma brutal e segura travagem, do melhor e mais possante que podes experimentar em motos de produção, oferecidas pelo sistema de Combined-ABS (travagem combinada), que auxiliado pelo sistema de embraiagem deslizante, evita alguns sustos maiores em desacelerações menos progressivas.
O conforto e a posição são bastante naturais, ao contrário do que se possa pensar, por ser uma "sport-tourer", com os avanços a trabalharem por cima da mesa de direcção. Para mim, que tenho 1,75m, assenta como uma luva, em termos ergonómicos.
A mota vem limitada de origem, em binário (nas 2 primeiras relações) e em velocidade, "cortando" em 6ª. a +/- 275 km/h. Mas é comum retirarem-lhe a válvula de corte e instalarem um "Bazazz" para enganar o limitador de binário. Ainda assim, declara 129 Nm de binário ás 8750rpm, o suficiente para te pregar com facilidade sustos em aceleração ou à saída de curva. Esta questão foi minimizada" com a adopção, no refresh de 2012, de um sistema de Controlo de Tracção (pelo que se optares por modelos 2012 adiante, já terão TC).
Claro que é uma mota comprida e pesada... mas ao contrário do que alguns falaram aqui (possivelmente até sem nunca terem experimentado nenhuma), o peso é daquela coisas que menos dou conta, tirando em situações esporádicas de manobras em cima dela, aonde hajam ligeiras inclinações do terreno. Nem é o seu peso que influí na sua capacidade de curvar, pois efectivamente a mota curva muito bem e à vontade, em curvas rápidas... e apenas em curvas mais lentas e técnicas, tende a adornar, não pelo peso, mas derivado sobretudo da sua larga distância entre eixos.
Esquece se prezares consumos, pois é uma moto que "bebe muito bem"... Se mantiveres uma condução contida q.b., até te revela números agradáveis, na casa dos 5.5 a 6 lt/100km. Mas se abusares para cima dos 2xx km/h ou mesmo numa estrada de montanha, te empenhares a fundo na condução, esquece que o V4 vai abrir goelas e devorar rapidamente os parcos 18.5 litros de capacidade (4 de reserva)... sendo esta outra das desvantagens (autonomia). Numa condução normal, terás cerca 200km feitos, até o aviso de reserva começar a piscar (que te dará para sensivelmente mais 50 a 60 km). Em condução mais abusada, convém de 150 em 150 kms pensares em parar para dar "palha à burra", sob pena de poderes ficar "seco".
Como principais pontos negativos ressalvo ainda a inaptidão para andar em ambientes urbanos, de trânsito congestionado ou velocidades baixas, que se reflectem em aquecimento excessivo e emanado para o condutor, esticões / estalos da transmissão por veio e maneabilidade (tudo questões facilmente adivinháveis). Com algum tempo e adaptabilidade, começa-se a saber dosear melhor os pontos de aceleração vs rpm, de modo a evitar este comportamento. Mas zonas mais congestionadas, são sempre de evitar, com esta moto.
A travagem combinada, depois da estranheza e adaptação inicial, não irás querer outra coisa. Poderosa, eficiente e segura.
A pintura (do tipo "vinílico"... é isto, Areias?), não tem acabamento envernizado, ou seja, revela mais facilmente algum menor cuidado ou toque acidental. No entanto, e se a souberes cuidar, em qualquer opção de cor, a mota emana uns brilhos e reflexos espectaculares.
No entanto, nada de alarmante. A minha com quase 10 anos e mais de 60 mil kms... e quem a conhece, sabe o estado (quase) imaculado em que está.
Nunca experimentei uma VFR1200F-DCT (embora gostasse de o fazer), nem mais que não fosse, para ter termos de comparação e eficiência (ou falta dela), do sistema. Mas segundo leio, aquilo trabalha muito bem, notando só alguns handicaps em situações de condução urbana (rotundas, contorno de obstáculos, etc...), em velocidades mais limitadas, em que o DCT tende a meter uma mudança acima aquela que seria desejado. De qualquer forma, tens sempre a possibilidade de com DCT, optar pelo modo "pilotado", em que metes tu as mudanças (no punho).
Desculpa o testamento, mas acho que já dá para teres uma ideia bem mais precisa, que a par com outras que já te foram indicadas, possas dissipar algumas dúvidas. Mas nada como um test-drive. Reitero a sugestão de, caso te decidas mesmo pela VFR1200F, optares por uma unidade pós 2012, que já contempla, controlo de tracção, maior autonomia e mais umas "mariquices".
Boas curvas