ACM - Academia de Condução Moto
#1

Na minha busca constante por aprender mais, há já algum tempo que tinha manifestado interesse em fazer outra formação de condução defensiva de motos (numa dessas tentativas inclusivamente fiz um contacto com a GNR sobre uma ação que tinham começado a desenvolver há alguns anos atrás e sobre a qual cheguei a trocar alguns e-mails para tentar organizar alguma coisa com os interessados aqui do fórum - resposta dos responsáveis do curso que tarda em acontecer). No final do ano passado, surgiu no entanto a oportunidade de participar no primeiro módulo do curso de condução defensiva do ACM (Academia de Condução Moto, uma espécie de “spinoff” do anterior curso da GNR), sendo que não pensei duas vezes em aceitar.

[Imagem: cLmYIrY.jpg]

A ACM é constituída por um grupo de formadores que vivem e respiram motos. Na maioria dos casos são instrutores de condução e nas horas vagas (para além das formações que dão) participam eles próprios em atividades e cursos no sentido de melhorar continuamente as suas capacidades, que vão desde o offroad até à condução em pista. Sabem realmente do que falam e aquilo que fazem com conhecimento de causa, e isso nota-se. A coordenar este grupo de formadores está o Domingos Simões, o mentor da ideia, fundador da ACM e um tipo porreiro e patusco que ajuda a tornar o dia interessante.


O curso é composto por dois módulos, sendo que no meu caso fiz ambos com cerca de um mês de intervalo entre si. O custo de cada módulo na altura estava nos 80 euros + IVA, valor que não me chocou dadas algumas experiências anteriores com valores bem mais elevados. Deixo-vos de seguida o meu relato para cada um deles (ainda que algo requentado porque fiz estes cursos no final do ano passado).
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#2

Módulo I

O primeiro módulo em que participei decorreu num parque de estacionamento em Mafra onde habitualmente decorre o mercado. O dia inteiro seria aí passado, já que este módulo é totalmente pensado para circuito fechado. O grupo (bem grandinho) foi-se gerando à chegada de cada mota.

[Imagem: a53dcN6.jpg]

Eu cheguei um pouco mais cedo e tive a oportunidade de tomar o pequeno-almoço e conversar com os instrutores no café em frente ao parque, onde também habitualmente a malta se junta a meio do dia para o intervalo do almoço.

Enquanto acabava o pequeno-almoço, os instrutores foram para o parque e começaram a definir vários circuitos com cones e obstáculos, para os diferentes tipos de exercício que seriam realizados ao longo do dia. Estes diferentes circuitos têm objetivos específicos, como manobrar a mota a baixa velocidade, treinar a travagem de emergência, realização de “slaloms”, os célebres oitos, mas com um “twist”, entre outros. Enquanto os instrutores terminavam a preparação dos circuitos, a malta ia fazendo o “check-in” no estaminé já montado onde o patrocínio da Yamaha sobre esta iniciativa era bastante evidente…

[Imagem: 1ZFDGB7.jpg]

As motas que os instrutores utilizam durante a formação são alguns modelos da Yamaha, que à data incluíam uma MT07, uma XSR900, uma T7 e até uma Nikken. Os instruendos fazem a formação nas suas próprias motas, o que acresce algum risco na realização da mesma, mas também pode ter a vantagem de ajudar a conhecer melhor o bicho que montamos e até onde podemos ir com ele em alguns detalhes. Para aqueles que terminam o dia a achar que a mota que têm é uma merda, a equipa disponibiliza os modelos da Yamaha para "test ride" após a conclusão da formação. Neste caso houve um jovem que levou uma Royal Enfield do século passado a cair de podre que não estava propriamente em condições para fazer alguns dos exercícios (engasgava-se em baixa rotação) e acabou por fazer os mesmos com a XSR, mota pela qual se apaixonou.

[Imagem: M2yfxKD.jpg]

Feito o "check-in", seguiu-se uma demonstração em sequência dos vários circuitos montados, por parte dos instrutores, com um grau de precisão, coordenação e sincronismo tal que dá vontade de bater palmas no final. De facto, é malta que sabe e não está ali apenas a debitar teoria. Finda a demonstração, mandam a malta pegar nas motas e distribuem-nos por grupos. No caso, foram criados 4 grupos de 5 elementos cada, cada um com o seu instrutor dedicado e com o circuito respetivo determinado. Ao longo do dia iríamos rodar entre os vários circuitos para treinar as diferentes vertentes da formação.

Enquanto a malta se agrupava, dei por mim a pensar que, na maioria dos casos, aquilo era rapaziada equipada para ir dali diretamente para o Tibete, o que não me parecia a melhor abordagem para uma formação deste género. Isto viria a comprovar-se uns 5 minutos depois de começarmos a rolar, com a primeira (de muitas) motas a irem parar ao chão. Uma AT novinha com os devidos malões de alumínio montados, à semelhança de muitas outras que por ali andavam… parece que manobrar mamutes de carga a baixa velocidade não é a coisa mais fácil do mundo (ou se calhar… até é – conforme se poderia comprovar ao longo do dia). Ainda assim, por momentos dei por mim a recear meter as primeiras marcas de guerra na F, coisa que felizmente e no meu caso não viria a acontecer.

[Imagem: 07eDb0O.jpg]

O curso seguiu a bom ritmo durante a parte da manhã, sem grande conversa nem tempos mortos. É uma formação com caráter bastante prático, o que é bom. Os instrutores estão sempre em cima de nós, atentos ao mais pequeno pormenor. “Tira a mão do travão!”… “Larga a embraiagem!”… “Todos os dedos na manete!”… “Deixa rolar!”… entre outras expressões vão-nos sendo bombardeadas ao longo do dia, até que entre alguma coisa. Os vícios são lixados, como o de manter sempre um ou dois dedos nas manetes. Mas curiosamente um dia de treino é suficiente para deixar uma “semente” no nosso cérebro, que nos pode ajudar a mudar alguns hábitos de forma mais duradoura.

No decorrer do almoço há oportunidade para descontrair um bocado. Além de termos a oportunidade de conversar uns com os outros e falarmos sobre aquilo que fizemos durante a manhã, há espaço para a malta contar algumas histórias de guerra (daquelas à berdadeiro) e falar sobre os locais remotos por onde já viajaram. E acreditem que num grupo de 20 pessoas haverá sempre histórias interessantes de se ouvir.

Durante a parte da tarde os exercícios práticos continuam, havendo no entanto lugar a mais algumas explicações e demonstrações sobre outros tópicos, como os tipos e utilização de equipamento de proteção individual (EPI), uma demonstração sobre a utilização de casacos e coletes com airbag para motociclistas (com direito a teste!) e até algumas tarefas de manutenção que vão desde a lubrificação de uma corrente à reparação de um furo. Tudo isto é feito de forma interessante e interativa, e nada aborrecida.

[Imagem: 4DVBdVT.jpg]

No final de um dia inteiro a andar de mota a baixa velocidade e a fazer circuitos com curvas e contracurvas apertadas, slaloms, oitos, etc. o cansaço começa a fazer sentir-se, na mesma medida que o grau de satisfação. Em muitos casos é evidente uma evolução significativa e isso deve ser a maior recompensa para quem realiza estas ações. O dia termina com um “wrap up” entre formandos e instrutores dando lugar aos test rides para quem neles estiver interessado, seguido das despedidas com o “pack” de oferta do ACM, que inclui um certificado do curso e uns “tóclantes” que dão mais 2 cv a cada mota.

(Continua…)


Nota do autor: não tenho muitas fotos em que apareça gente a andar de mota, porque não houve vagar... estava muito ocupado a fazer os exercícios para tirar fotografias... no entanto no facebook encontram-se várias fotos e vídeos das ações que se vão realizando, pelo que deixo vos convido a visitar a página do ACM2R para conhecerem melhor.
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#3

Módulo II

Cerca de um mês depois recebi novo contacto a indicar disponibilidade para a minha participação (caso tivesse interesse) no segundo módulo da formação da ACM. Considerando a forma como tinha decorrido o primeiro nem hesitei e garanti logo presença. O preço seria o mesmo do primeiro módulo (80 euros + IVA), o que uma vez mais vale bem a pena para a experiência em questão.

O ponto de encontro seria no mesmo local em Mafra, mas desta feita os planos para o dia seriam bastante diferentes. O grupinho lá se foi juntando à imagem e semelhança do que tinha acontecido no primeiro módulo, reunindo uma vez mais cerca de 20 motas. A diferença é que neste dia estava um briol do caraças, pelo que àquela hora da manhã e enquanto esperava, já só desejava começar a trabalhar! A malta lá se foi reunindo enquanto decorriam os derradeiros preparativos por parte da equipa da ACM.

[Imagem: TLnrdVb.jpg]

Esta é a única foto que tenho desse dia porque, uma vez mais, não houve vagar para andar a tirar fotos…

Uma vez montado o estaminé e feito o check-in de todos os participantes, não iríamos permanecer por ali muito tempo além do necessário para falar sobre alguns aspetos da condução que se pretendiam trabalhar (sobretudo relacionados com posição de condução, definição e controlo de trajetórias, adequação da velocidade, travagem de emergência, obstáculos na estrada, etc.). O Domingos e os restantes instrutores explicaram aquilo que se pretendia que fizéssemos (e a forma mais adequada de o fazermos) e descreveram também de que forma iria ser assegurada a logística de manter 20 motas em estrada a praticar ao longo do dia inteiro.

Uma vez mais, o grupo foi dividido em grupos mais pequenos de 5 pessoas, para cada um dos instrutores presentes. O Domingos ficaria a coordenar via rádio os vários grupos e a observar a passagem dos mesmos em pontos estratégicos do percurso, ao longo do dia, que seria feito por zonas que incluíram desde o Gradil, tapada de Mafra e zonas circundantes, até à Ericeira.

Em cada grupo, os participantes iam mudando de posição ao longo do dia, rolando mais atrás ou mais à frente, próximo do instrutor. O instrutor adequa a velocidade do grupo de forma a que os exercícios possam ser feitos de forma adequada, mas foi com alguma satisfação que, enquanto íamos mudando de posição, constatei que não iríamos necessariamente rolar a passo de caracol.

Num dos ganchos do Gradil, o Domingos montou o seu estaminé e lá foi filmando os vários elementos de cada grupo à passagem. Estes filmes seriam depois revistos no final do almoço, que teve lugar no mesmo restaurante em frente ao parque de estacionamento, e o grupo poderia ter a oportunidade de ver o que tinha feito bem e menos bem. O Domingos é uma figura e por isso esta visualização dos filmes proporciona bons momentos de humor porque tem os comentários dele enquanto filma a malta a cada passagem...

Citar:Marco... o que é que estás a fazer pá? Pára lá de dançar e faz mas é a curva!

lol

Uma vez mais, finda a refeição não se engonhou muito mais e voltámos rapidamente à estrada para continuar a rolar. Notava-se que todos estavam mais soltos relativamente ao início do dia e deu para adquirir um ritmo mais interessante. No final do dia e antes de regressarmos à base, curtimos mais umas curvinhas até à Ericeira. Tive a sorte de me ter calhado fazer essa última parte na roda do instrutor, sendo que deu para esticar um bocadinho as pernas à F e à T7 antes da paragem para reagrupar.

Por fim regressámos à base para fazer um “wrap up” do dia. Correu tudo de forma espetacular, sem qualquer tipo de percalço, o que é um sinal evidente da notável gestão que esta equipa faz sobre um grupo de 20 motas ou mais na estrada, conciliando a heterogeneidade de níveis (e das próprias motas) de toda aquela malta.

Resumindo: uma experiência que vale muito a pena, na minha opinião bastante melhor que a que me foi proporcionada por exemplo na Escola de Condução da Honda no KIP (e por um preço bastante mais simpático). Ainda não o fiz, mas não ponho de parte repetir a experiência e constatei enquanto lá andava que havia alguns repetentes no grupo. É algo que mesmo a título de “reciclagem” faz todo o sentido fazer de vez em quando.
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#4

Muito bom. Obrigado pela partilha.
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#5

Fabulosa reportagem como sempre!!!

Ricardo - Honda CB500X
[Imagem: latest?cb=20150510093035]
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#6

Para os interessados a norte, recebi indicação que vão fazer formação (módulos 1 e 2) nos dias 25 e 26 de Junho em Cortegaça (Espinho).

Infelizmente não tenho disponibilidade nesse fim de semana mas pode ser que alguém daqui tenha interesse.

[Imagem: muhz7is.jpg]
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