A verdade por detrás dos números de vítimas onde intervém motas e ciclomotores
#1

Artigo de  Pedro Soares Lourenço em 29/12/2017 no blog O Escape Mais Rouco


Não há como dar a volta, este foi um dos temas do ano que agora finda. Em Abril passado deixei aqui estas questões: "alguém se lembra de uma campanha de segurança rodoviária em que os motociclistas sejam protagonistas? Alguém se lembra de uma campanha de segurança rodoviária em que os motociclistas se vejam protegidos? Alguém se lembra de uma campanha de segurança rodoviária que alerte para a fragilidade dos motociclistas?".


O que foi feito? Nada!

Entretanto, aparentemente, a rapaziada da ANIECA, ACP, PRP e ANCIA têm-se entretido a comprar publicidade mascarada de jornalismo nos decrépitos e falidos jornais portugueses. Em dia de Natal, este pedaço de lixo – não encontro outra forma de dizer isto – é o exemplo supremo.

A Comissão de Mototurismo da FPM tem feito (como sempre!) a nossa defesa enquanto motociclistas. Tomei a liberdade de compilar algumas dessas palavras, escritas na sua página no facebook, que seguem aqui em baixo em itálico e são credoras da vossa atenção.

Os índices de acidentes de moto têm sido alvo de alarmantes notícias em diversos órgãos de comunicação social nos últimos tempos. De uma forma desonesta (porque mente) e imoral (porque tenta tirar proveitos da desgraça), a ANCIA-Associação Nacional de Centros de Inspecção Automóvel está em cada “esquina” à espera dessas notícias e da oportunidade para argumentar que o que faz falta para diminuir o número de acidentes são as inspecções às motos…, quando todos sabem que apenas 0,3% dos acidentes de moto são provocados por falha mecânica; este é um dado baseado num estudo (MAIDS) apresentado por um professor do Instituto Superior Técnico e estudioso desta matéria, durante um colóquio promovido pela própria ANCIA.

O problema da sinistralidade rodoviária existe e é transversal em termos de utentes das estradas mas, o que não podemos aceitar como motociclistas é que andem a tentar aproveitar-se disso para um negócio (inspecções) e que por detrás de cada notícia relacionada com o assunto venha a sistemática mensagem de que as motos são perigosas e “matam que se fartam”. As motos estão aí para ficar, porque cada vez mais são a melhor resposta, em termos de solução particular, aos crescentes problemas de mobilidade. Justamente por isso, as motos estão em Portugal a invadir os grandes centros urbanos numa escala ainda muito reduzida em comparação com o que se passa no resto da Europa Ocidental e até quase pelo Mundo inteiro.

Afinal qual a verdade por trás dos números de vitais mortais onde intervém motas e ciclomotores? Fomos analisar números e esta tem sido a evolução dos últimos 23 anos em termos de vítimas mortais em acidentes com ciclomotores e motos:
ano de 1995 – 610 mortes
1996-564
1997-522
1998-488
1999-444
2000-348
2001-321
2002-298
2003-325
2004-265
2005-258
2006-205
2007-189
2008-164
2009-152
2010-187
2011-173
2012-161
2013-129
2014-134
2015-115
2016-103
até Out 2017-110 mortes.

Vamos agora ver a evolução dos números do nosso parque de duas rodas com motor nos últimos 10 anos: em 2007 venderam-se 17559 veículos e a evolução tem sempre sido contínua, pois em 2012 venderam-se 20418 e neste ano (2017) até Novembro venderam-se 26666.

Assim, temos que a venda de motos CRESCEU 52% apenas entre 2007 e 2017. Em igual período (2007/2017) os acidentes com vítimas mortais de moto DECRESCEU 41% e só uma hecatombe motociclista durante estes dois últimos meses do ano poderia alterar este valor de forma significativa; o que não aconteceu.

E agora, senhores jornalistas arautos da desgraça encomendada, como vão interpretar estes números? Números que até são da ANSR e da ACAP e que nos dizem que em 10 anos tivemos uma subida de 52% de venda de motos e uma diminuição de 41% de mortes na estrada.

Significativo, se pensarmos ainda que grande percentagem das motos vendidas neste período são as tais 125cc compradas por automobilistas..., sim, aqueles que são apontados como os "grandes culpados" do alegado aumento da sinistralidade. Afinal vimos que não são porque nem sequer há esse aumento, bem pelo contrário.

Perante estas evidências, obviamente que não podemos ficar indiferente a três situações: 1- que houve uma evolução muito positiva em termos de números de vítimas mortais de acidentes de moto nos últimos 23 anos; 2- que estes números ainda podem e devem baixar mais e que isso depende também muito de nós motociclistas; 3- que a campanha “alarmante” que está a acontecer nos órgãos de comunicação social em relação a este assunto, não é mais do que algo encomendado e bem orquestrado contra as motos e os motociclistas.

Posto isto, resta-me desejar que não nos falte, a nós motociclistas, vida e saúde para que no ano que agora começa seja possível, por um lado, combater a mentira organizada e, por outro, disfrutar livre e conscientemente dos veículos que amamos.

Boas curvas!



think

[Imagem: wrong-bike.jpg]
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#2

(30-12-2017 às 17:37)n00b1e Escreveu:  Artigo de  Pedro Soares Lourenço em 29/12/2017 no blog O Escape Mais Rouco

Interessante...nada que já não se tivesse constatado.

Andas numa de muita leitura...
Toca a meter a mariazinha na rua pá. blink
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#3

É uma firma honesta e válida de falar e debater este tipo de assuntos aqui no fórum.

Convinha analizar com lupa o porquê desta descida sustentável das vítimas entre o colectivo motociclista.

No entanto posso dizer que fomos nós, os motociclistas, que fizemos por isso. Foste nós motociclistas que, em vários movimentos cívicos incentivamos e promovemos uma lei apresentada e aprovada na Assembleia da República por um motociclista em 2004. A par com a aplicação da lei dos Rails, a comunidade experimentou uma mudança de comportamentos, tornou-se mais visível, mais participativa e respeitável.
Quer se queira, quer não, isto muda comportamentos rodoviários, aumenta o civismo, reduzindo os comportamentos de risco e directamente reduzindo a sinistralidade.

A carta das 125 só pode ter impacto negativo, se esses condutores pularem a cerca dos 125, passarem a conduzir motos de maior cilindrada sem ser feito previamente um trabalho de consciencialização sobre os riscos inerentes às motas de maior cilindrada.
Teremos que ser nós, motociclistas, a fazer esse trabalho de sensibilização para que estes não se fiquem para trás, a engordar o número das vítimas de acidentes rodoviários.
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#4

Muito bom artigo.

E que desmascara mais uma vez e sempre a hipocrisia dos meios de comunicação portugueses que tentam fazer-nos comer gelados com a testa todos os dias, a todos os níveis.
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#5

As inspeções são inevitáveis porque são uma norma europeia que ainda assim não foi devidamente legislada. Depois existe o teatro criado por todos os interessados para levar à sua legislação em Portugal antes da obrigatoriedade por parte da UE, que felizmente até agora não deu grandes feitos em termos práticos. Como é algo que não dá muito dinheiro vai passando, mas não acredito que aguente muito mais. A ver vamos...
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#6

(30-12-2017 às 18:54)LoneRider Escreveu:  É uma firma honesta e válida de falar e debater este
A carta das 125 só pode ter impacto negativo, se esses condutores pularem a cerca dos 125, passarem a conduzir motos de maior cilindrada sem ser feito previamente um trabalho de consciencialização sobre os riscos inerentes às motas de maior cilindrada.

A lei das 125 também pode ser benéfica, uma vez que muitos dos condutores de automóveis também já usam essas tais 125, já começam (espero) a ter noção dos perigos e exposição a que podem estar/estão sujeitos no dia a dia e começam a ter mais respeito, outros que não têm conhecem alguém que tem essas tais 125.
Muitos dos motociclistas de hoje, com motas "grandes' começaram com essas 125 e fizeram upgrades, temos vários exemplos de users neste fórum.
Acho que essas 125 são uma porta de entrada no mundo das motas, tal como aconteceu nos idos 80s/90s com as licenças camarárias (em que nada se aprendia, bastava acertar em dois ou três sinais/regras e estava considerado apto) com as DTs, NSRs, TZRs, RZs e alguns sortudos com Cagiva Prima angel
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#7

O trabalho de investigação acerca desses números foi publicado originalmente pela FPM.
O autor desse blog tem feito é uma boa divulgação de algo que estava meio "escondido" apenas nas redes sociais.

(30-12-2017 às 18:54)LoneRider Escreveu:  A carta das 125 só pode ter impacto negativo, se ...

Olhando para a estatística nota-se um aumento de 152 para 187 quando a lei entrou em vigor.
Ainda assim, parece-me desonesta a tentativa de responsabilizar a lei por isso, quando até 2007 os números de vítimas foram sempre superiores.

(30-12-2017 às 18:54)LoneRider Escreveu:  ...esses condutores pularem a cerca dos 125, passarem a conduzir motos de maior cilindrada sem ser feito previamente um trabalho de consciencialização sobre os riscos inerentes às motas de maior cilindrada.

Esses condutores para pularem das 125 para maiores cilindradas têm de tirar a carta!
E tirar uma carta A no presente implica estudar um código especifico que é um das principais responsáveis pelo movimento higiénico hi-viz que muitos de nós também criticamos.

(31-12-2017 às 12:30)Rod Escreveu:  A lei das 125 também pode ser benéfica, ...

A lei das 125 foi extremamente positiva pois não só agitou um mercado que estava moribundo como colocou mais gente a andar de moto...
Sobretudo enquanto veículo do dia-a-dia.

O problema é que há muita gente a oferecer enorme resistência à ideia que há espaço para todos.
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#8

(31-12-2017 às 12:54)dfelix Escreveu:  O trabalho de investigação acerca desses números foi publicado originalmente pela FPM.
O autor desse blog tem feito é uma boa divulgação de algo que estava meio "escondido" apenas nas redes sociais.

Pois isso está mencionado especificamente no post. Mas também te digo que andei à procura desses números na fonte "original" da FPM e nada encontrei. É um "meio-escondido" daqueles muito bem escondidos. blink

[Imagem: wrong-bike.jpg]
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#9

A conclusão a tirar deste artigo é a meu ver muito simples (e demasiado limitada) e pode ser descrita da seguinte forma resumida:

Cada vez há mais gente a andar de mota, cada vez há uma maior perceção de que andar de mota é perigoso, e cada vez mais a sinistralidade diminui ano após ano (apesar do crescimento do número de motas na estrada).

Portanto, no geral e "apesar" da lei das 125 e do crescente número de motociclistas, estatisticamente é mais seguro andar de mota nos dias de hoje do que há 20 anos atrás.

Seria interessante analisar o porquê.
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#10

As motas também sao muito mais seguras que a 20 anos atrás. Fora isso, a informação quanto ao perigo sobre andar em duas rodas é amplamente divulgado nos dias de hoje. Ha mais de 20 anos era tirar a carta dar pau por ai fora e depois de um acidente logo se via, se um gajo nao morresse ia aprendendo!  lol Alias nao foi a muito tempo que se conduzia sem capacete porque era normal e nao uma infracção. Desde então a evolução foi bastante significativa.
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